⁠Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento Me servem neste dia em que te espero E já não sei se quero ou se não quero Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento? Daquilo que te peço desespero Ainda que mo dês - pois o que eu quero Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares, De ser tão breve e fundo o teu engano, E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano: Também morre o florir de mil pomares E se quebram as ondas no oceano.


Sophia De Mello Breyner Andresen

Outras frases de Sophia de Mello Breyner Andresen

+ Quando eu morrer voltarei para buscar Os instantes que não vivi junto do mar. - Sophia De Mello Breyner Andresen

+ Liberdade Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade. - Sophia De Mello Breyner Andresen

+ Mar, metade da minha alma é feita de maresia Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, Que há no vasto clamor da maré cheia, Que nunca nenhum bem me satisfez. E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia Mais fortes se levantam outra vez, Que após cada queda caminho para a vida, Por uma nova ilusão entontecida. E se vou dizendo aos astros o meu mal É porque também tu revoltado e teatral Fazes soar a tua dor pelas alturas. E se antes de tudo odeio e fujo O que é impuro, profano e sujo, É só porque as tuas ondas são puras. - Sophia De Mello Breyner Andresen

+ Porque os outros se mascaram mas tu não Porque os outros usam a virtude Para comprar o que não tem perdão. Porque os outros têm medo mas tu não. Porque os outros são os túmulos caiados Onde germina calada a podridão. Porque os outros se calam mas tu não. Porque os outros se compram e se vendem E os seus gestos dão sempre dividendo. Porque os outros são hábeis mas tu não. Porque os outros vão à sombra dos abrigos E tu vais de mãos dadas com os perigos. Porque os outros calculam mas tu não. - Sophia De Mello Breyner Andresen

+ Quero Nos teus quartos forrados de luar Onde nenhum dos meus gestos faz barulho Voltar. E sentar-me um instante Na beira da janela contra os astros E olhando para dentro contemplar-te, Tu dormindo antes de jamais teres acordado, Tu como um rio adormecido e doce Seguindo a voz do vento e a voz do mar Subindo as escadas que sobem pelo ar. - Sophia De Mello Breyner Andresen

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