Último Soneto

Já da noite o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito, embalde num macio encosto, Tento o sono reter!… Já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece… Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos, por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive!


Álvares De Azevedo