VI

Venho de longe e trago no perfil, Em forma nevoenta e afastada, O perfil de outro ser que desagrada Ao meu actual recorte humano e vil.

Outrora fui talvez, não Boabdil, Mas o seu mero último olhar, da estrada Dado ao deixado vulto de Granada, Recorte frio sob o unido anil…

Hoje sou a saudade imperial Do que já na distância de mim vi… Eu próprio sou aquilo que perdi…

E nesta estrada para Desigual Florem em esguia glória marginal Os girassóis do império que morri…


Fernando Pessoa

Outras frases de Fernando Pessoa

+ XXXIX - O MISTÉRIO DAS COUSAS O mistério das cousas, onde está ele? Onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas, Rio como um regato que soa fresco numa pedra. Porque o único sentido oculto das cousas É elas não terem sentido oculto nenhum, É mais estranho do que todas as estranhezas E do que os sonhos de todos os poetas E os pensamentos de todos os filósofos, Que as cousas sejam realmente o que parecem ser E não haja nada que compreender. Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: — As cousas não têm significação: têm existência. As cousas são o único sentido oculto das cousas. - Fernando Pessoa

+ We torture our brother men with hate, spite, evil, and then say “the world is bad”. Torturamos os nossos irmãos homens com o ódio, o rancor, a maldade e depois dizemos «o mundo é mau». (Aforismos e afins) - Fernando Pessoa

+ Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. - Fernando Pessoa

+ Vive a tua vida. Não sejas vivido por ela. - Fernando Pessoa

+ ⁠Vivem em nós inúmeros - Fernando Pessoa

+ Mais frases