VOCÊ SABE OUVIR?
Vendo de casa a quantidade de perguntas repetidas aos convocados para depor na CPMI dos Correios e mesmo algumas respostas destes, lembrei-me de uma velha convicção do que observei e fui aperfeiçoando em anos de debates, comissões e reuniões. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está a dizer. Vejamos:
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Em geral não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que ele não está a dizer.
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Não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que se quer ouvir.
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Não se ouve exatamente o que o outro fala. Ouve-se o que já se incorporara antes a respeito do assunto falado que bloqueia a compreensão da fala alheia e faz ouvir o que já se achava ou discordava a respeito.
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Raramente se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se imagina que ele iria falar.
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Numa discussão, em geral, não se ouve o que o outro fala. Ouve-se quase que só o que se pensa para dizer em seguida.
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Outros não conseguem ouvir o que o outro fala. Ouvem o que gostariam que o outro dissesse.
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Não se ouve com disponibilidade interior o que o outro fala. Ouve-se apenas o que se está sentindo em relação ao assunto debatido.
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Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já se pensava a respeito daquilo que o outro está a falar,
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Não se ouve plenamente o que o outro fala. Retiram-se da fala dele apenas as partes que já estavam sedimentadas dentro de si mesmo.
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Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento ou opinião pré-existente. Ou seja, transforma-se o que o outro está a falar objeto de concordância ou discordância.
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Não se ouve o que o outro está a dizer Ouve-se o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia por quem está a falar.
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Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se da fala dele apenas os pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vista que no momento nos estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
Ouviu?