Frases de Luís De Camões

+ Mas, conquanto não pode haver desgosto Onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê. Que dias há que n'alma me tem posto Um não sei quê, que nasce não sei onde, Vem não sei como, e dói não sei porquê. - Luís De Camões

+ ⁠Lembranças, que lembrais meu bem passado Lembranças, que lembrais meu bem passado, Pera que sinta mais o mal presente, Deixai-me, se quereis, viver contente, Não me deixeis morrer em tal estado. Mas se também de tudo está ordenado Viver, como se vê, tão descontente, Venha, se vier, o bem por acidente, E dê a morte fim a meu cuidado. Que muito melhor é perder a vida, Perdendo-se as lembranças da memória, Pois fazem tanto dano ao pensamento. Assim que nada perde quem perdida A esperança traz de sua glória, Se esta vida há-de ser sempre em tormento. - Luís De Camões

+ Inimiga não há, tão dura e fera, como a virtude falsa da sincera. - Luís De Camões

+ Extremos são de amor os que padeço, Ó humano tesouro, ó doce glória; E se cuido que acabo então começo. Assim te trago sempre na memória; Nem sei se vivo, ou morro, mas conheço, Que ao fim da batalha é a vitória - Luís De Camões

+ Eu sou um velho moço - Luís De Camões

+ Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. Farei que amor a todos avivente, Pintando mil segredos delicados, Brandas iras, suspiros magoados, Temerosa ousadia e pena ausente. Também, Senhora, do desprezo honesto De vossa vista branda e rigorosa, Contentar-me-ei dizendo a menor parte. Porém, pera cantar de vosso gesto A composição alta e milagrosa Aqui falta saber, engenho e arte. - Luís De Camões

+ Eu cantarei de amor tão docemente, Por uns termos em si tão concertados, Que dois mil acidentes namorados Faça sentir ao peito que não sente. - Luís De Camões

+ Estando em terra, chego ao Céu voando; Numa hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar um'hora. - Luís De Camões

+ Erros meus, má Fortuna, Amor ardente Em minha perdição se conjuraram; Os erros e a Fortuna sobejaram, Que para mim bastava Amor somente. Tudo passei; mas tenho tão presente A grande dor das cousas que passaram, Que as magoadas iras me ensinaram A não querer já nunca ser contente. Errei todo o discurso de meus anos; Dei causa (a) que a Fortuna castigasse As minhas mal fundadas esperanças. De amor não vi senão breves enganos. Oh! Que tanto pudesse que fartasse Este meu duro Gênio de vinganças! - Luís De Camões

+ Enquanto quis Fortuna que tivesse Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento Me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento, Escureceu-me o engenho co'o tormento, Para que seus enganos não disesse Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades! Quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são e não defeitos; E sabei que, segundo o amor tiverdes, Tereis o entendimento de meus versos. - Luís De Camões

+ Endechas a Bárbara escrava Aquela cativa Que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. Nem no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular, Olhos sossegados, Pretos e cansados, Mas não de matar. U~a graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora De quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde opinião Que os louros são belos. Pretidão de Amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão, Que o siso acompanha; Bem parece estranha, Mas bárbara não. Presença serena Que a tormenta amansa; Nela, enfim, descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo; E. pois nela vivo, É força que viva. - Luís De Camões

+ E sou já do que fui tão diferente Que, quando por meu nome alguém me chama, Pasmo, quando conheço Que ainda comigo mesmo me pareço. - Luís De Camões

+ É fraqueza entre ovelhas ser leão. - Luís De Camões

+ É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende, Que a tanto o engenho humano não se estende. - Luís De Camões

+ É covardia ser leão entre ovelhas. - Luís De Camões

+ E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando: Cantando espalharei por toda a parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. - Luís De Camões

+ Ditoso seja aquele que somente Ditoso seja aquele que somente Se queixa de amorosas esquivanças; Pois por elas não perde as esperanças De poder nalgum tempo ser contente. Ditoso seja quem, estando absente, Não sente mais que a pena das lembranças, Porque, inda mais que se tema de mudanças, Menos se teme a dor quando se sente. Ditoso seja, enfim, qualquer estado, Onde enganos, desprezos e isenção Trazem o coração atormentado. Mas triste de quem se sente magoado De erros em que não pode haver perdão, Sem ficar na alma a mágoa do pecado. - Luís De Camões

+ De quantas graças tinha, a Natureza De quantas graças tinha, a Natureza Fez um belo e riquíssimo tesouro, E com rubis e rosas, neve e ouro, Formou sublime e angélica beleza. Pôs na boca os rubis, e na pureza Do belo rosto as rosas, por quem mouro; No cabelo o valor do metal louro; No peito a neve em que a alma tenho acesa. Mas nos olhos mostrou quanto podia, E fez deles um sol, onde se apura A luz mais clara que a do claro dia. Enfim, Senhora, em vossa compostura Ela a apurar chegou quanto sabia De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura. - Luís De Camões

+ Da tensão danada nasce o medo. - Luís De Camões

+ Coitado! que em um tempo choro e rio Coitado! que em um tempo choro e rio; Espero e temo, quero e aborreço; Juntamente me alegro e entristeço; Du~a cousa confio e desconfio. Voo sem asas; estou cego e guio; E no que valho mais menos mereço. Calo e dou vozes, falo e emudeço, Nada me contradiz, e eu aporfio. Queria, se ser pudesse, o impossível; Queria poder mudar-me e estar quedo; Usar de liberdade e estar cativo; Queria que visto fosse e invisível; Queira desenredar-me e mais me enredo: Tais os extremos em que triste vivo! - Luís De Camões

+ Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las. - Luís De Camões

+ Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram, Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Netuno e Marte obedeceram; Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. - Luís De Camões

+ Canção Se este meu pensamento, como é doce e suave, de alma pudesse vir gritando fora, mostrando seu tormento cruel, áspero e grave, diante de vós só, minha Senhora: pudera ser que agora o vosso peito duro tornara manso e brando. E eu que sempre ando pássaro solitário, humilde, escuro, tornado um cisne puro, brando e sonoro pelo ar voando, com canto manifesto pintara meu tormento e vosso gesto. Pintara os olhos belos que trazem nas mininas o Minino que os seus neles cegou; e os dourados cabelos em tranças d'ouro finas a quem o Sol seus raios abaixou; a testa que ordenou Natura tão formosa; o bem proporcionado nariz, lindo, afilado, que a cada parte tem a fresca rosa; a boca graciosa, que querê-la louvar é escusado; enfim, é um tesouro: os dentes, perlas; as palavras, ouro. Vira-se claramente, ó Dama delicada, que em vós se esmerou mais a Natureza; e eu, de gente em gente, trouxera trasladada em meu tormento vossa gentileza. Somente a aspereza de vossa condição, Senhora, não dissera, porque se não soubera que em vós podia haver algum senão. E se alguém, com razão, — Porque morres? dissera, respondera: — Mouro porque é tão bela que inda não sou para morrer por ela. E se pola ventura, Dama, vos ofendesse, escrevendo de vós o que não sento, e vossa fermosura tão baixo não descesse que a alcançasse um baixo entendimento, seria o fundamento daquilo que cantasse todo de puro amor, porque vosso louvor em figura de mágoas se mostrasse. E onde se julgasse a causa pelo efeito, minha dor diria ali sem medo: quem me sentir, verá de quem procedo. Então amostraria os olhos saudosos, o suspirar que a alma traz consigo; a fingida alegria, os passos vagarosos, o falar, o esquecer-me do que digo; um pelejar comigo, e logo desculpar-me; um recear, ousando; andar meu bem buscando, e de poder achá-lo acovardar-me; enfim, averiguar-me que o fim de tudo quanto estou falando são lágrimas e amores; são vossas isenções e minhas dores. Mas quem terá, Senhora, palavras com que iguale com vossa fermosura minha pena; que, em doce voz, de fora aquela glória fale que dentro na minh'alma Amor ordena? Não pode tão pequena força de engenho humano com carga tão pesada, se não for ajudada dum piedoso olhar, dum doce engano; que, fazendo-me o dano tão deleitoso, e a dor tão moderada, que, enfim, se convertesse nos gostos dos louvores que escrevesse. Canção, não digas mais; e se teus versos à pena vêm pequenos, não queiram de ti mais, que dirás menos. - Luís De Camões

+ Busque Amor novas artes, novo engenho, para matar me, e novas esquivanças; que não pode tirar me as esperanças, que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê. Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê. - Luís De Camões

+ Basta um frade ruim para dar que falar a um convento. - Luís De Camões