Late Ilusão

Em noite de lua cheia geme ao meu lado o meu cão acabado de chegar late ilusões ao meu ouvido e meu sentido diz que ele veio pra ficar Mas a vida passa e vira páginas da folhinha o que era cheia e domingo foi minguando em segundas e terças e meu homem, minha besta voltou novo e repetido como se fosse ficar até sexta três dias de ele chegando de madrugada Três dias de ele nadando na minha água Conversas de homem e mulher beijo na boca tirar a roupa novos latidos de ilusão no meu duvido meu homem partiu na derradeira manhã todo agradecido dos momentos de amor que uivou comigo eu fiquei lua sozinha no céu com aquela saudade amarela e ele na terra cantando latindo partindo uivando pra ela.


Elisa Lucinda

Outras frases de Elisa Lucinda

+ Aviso da Lua que Menstrua Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa. Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia Barriga cresce, explode humanidades e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar mas é outro lugar, aí é que está: cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita... Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente que vai cair no mesmo planeta panela. Cuidado com cada letra que manda pra ela! Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento a tudo refoga, ferve, frita ainda sangra tudo no próximo mês. Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez! Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera" conheço cada uma, além de ser uma delas. Você que saiu da fresta dela delicada força quando voltar a ela. Não vá sem ser convidado ou sem os devidos cortejos... Às vezes pela ponte de um beijo já se alcança a "cidade secreta" a Atlântida perdida. Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela. Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas cai na condição de ser displicente diante da própria serpente. Ela é uma cobra de avental. Não despreze a meditação doméstica. É da poeira do cotidiano que a mulher extrai filosofia cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso julgando a arte do almoço: Eca!... Você que não sabe onde está sua cueca? Ah, meu cão desejado tão preocupado em rosnar, ladrar e latir então esquece de morder devagar esquece de saber curtir, dividir. E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha. São duas dignas vizinhas do mundo daqui! O que você tem pra falar de vaca? O que você tem eu vou dizer e não se queixe: VACA é sua mãe. De leite. Vaca e galinha... ora, não ofende. Enaltece, elogia: comparando rainha com rainha óvulo, ovo e leite pensando que está agredindo que tá falando palavrão imundo. Tá, não, homem. Tá citando o princípio do mundo! - Elisa Lucinda

+ Cor-respondência Remeta-me os dedos em vez de cartas de amor que nunca escreves que nunca recebo. Passeiam em mim estas tardes que parecem repetir o amor bem feito que você tinha mania de fazer comigo. Não sei amigo se era seu jeito ou de propósito mas era bom sempre bom e assanhava as tardes Refaça o verso que mantinha sempre tesa a minha rima firme confirme o ardor dessas jorradas de versos que nos bolinaram os dois a dois Pense em mim e me visite no correio de pombos onde a gente se confunde Repito: Se meta na minha vida outra vez meta Remeta. - Elisa Lucinda

+ Escolha Eu te amo como um colibri resistente incansável beija-flor que sou batedora renitente de asas viciada no mel que me dás depois que atravesso o deserto. Pingas na minha boca umas gotas poucas do que nem é uma vacina. Eu uma mulher, uma ave, uma menina… Assim chacinas o meu tempo de eremita: quebras a bengala onde me apoiei, rasgas minhas meias as que vestiram meus pés quando caminhei as areias. Eu te amo como quem esquece tudo diante de um beijo: as inúmeras horas desbeijadas os terríveis desabraços os dolorosos desencaixes que meu corpo sofreu longe do seu. Elejo sempre o encontro Ele é o ponto do crochê. Penélope invertida nada começo de novo nada desmancho nada volto Teço um novo tecido de amor eterno a cada olhar seu de afeto não ligo para nada que doeu. Só para o que deixou de doer tenho olhos. Cega do infortúnio pesco os peixes dos nossos encaixes pesco as gozadas as confissões de amor as palavras fundas de prazer as esculturas astecas que nos fixam na história dos dias Eu te amo. De todos os nossos montes fico com as encostas De todas as nossas indagações fico com as respostas De todas as nossas destilairias fico com as alegrias De todos os nossos natais fico com as bonecas De todos os nossos cardumes as moquecas. - Elisa Lucinda

+ DA CHEGADA DO AMOR Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse. Sempre quis uma amor que elaborasse Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono e trouxesse beijo no clarão da amanhecice. Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor. Sempre quis um amor cujo BOM DIA! morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro coisa da mesma embocadura sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse. Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças. Agora, diante da encomenda metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma o seu conteúdo. Contudo sempre quis um amor que me coubesse futuro e me alternasse em menina e adulto que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor, sempre quis um amor que sem tensa-corrida-de ocorresse. Sempre quis um amor que acontecesse sem esforço sem medo da inspiração por ele acabar. Sempre quis um amor de abafar, (não o caso) mas cuja demora de ocaso estivesse imensamente nas nossas mãos. Sem senãos. Sempre quis um amor com definição de quero sem o lero-lero da falsa sedução. Eu sempre disse não à constituição dos séculos que diz que o "garantido" amor é a sua negação. Sempre quis um amor que gozasse e que pouco antes de chegar a esse céu se anunciasse. Sempre quis um amor que vivesse a felicidade sem reclamar dela ou disso. Sempre quis um amor não omisso e que suas estórias me contasse. Ah, eu sempre quis uma amor que amasse. Poesia extraída do livro "Euteamo e suas estréias", Editora Record - Rio de Janeiro, 1999, - Elisa Lucinda

+ Um Bonde Chamado seu Beijo Quem encobrirá meu sono? Beijará quem minhas costas no cotidiano? Quem, no meio do frio, me cobrirá com lindas orelhas e me dirá palavras indecentes nos ouvidos? Quem, atrevido, me acordará com o ponteiro em riste como um pássaro que não quer tudo apenas o céu, a gaiola, o alpiste? Quem que, quando eu dormisse, por mim zelasse e eu, quando acordasse, lhe fizesse iogurtes brejeiros massagens nos pés, cumplicidades de enlace? Quem me agarrará por trás quando eu sair cheirosa do banho e terá orgulho de eu ser guerreira e perfumada ao mesmo tempo? Quem em bom senso dirá que muito me assanho quem orientará a guerrilha diária a que me proponho quem será inteligente e gostoso a meu lado como está no meu sonho? Quem, a quem me disponho a cozinhar e fazer versos quem racional e perverso cochichará nos tímpanos da minha alma a doce ordem, a venal palavra: Calma? Quem com sua alma me mostrará um mar vertical? Quem, meu igual, me apontará andores reais, sem excesso de glacê no bolo Com determinação de touro e a nobreza de poder ser banal? Quem, coisa e tal, me beijará a boca e me enfiará as mãos por debaixo da barra do segredo do vestido e um dia passeará comigo no segredo contido na Barra do Jucu? Quem, senão tu que eu elejo, eu planejo, pode habitar o lugar a suíte que há tanto tenho reservado? Quem, encomendado, pode me manter na confiança dos edredons enquanto não chega? Quem, com certeza, me visitará num outubourbon no gume da lira de eu ser égua, cadela, mulher e sua? Quem sobre mim sua, pinga, chove? Quem que com lucidez resolve o abismo simples de prever o risco de sonhar pra nele mesmo cair, rir e se embolar? Quem me dará a idéia de conceber a saudade no sentido tático quem, não estático, de longe me fará cometer poemas de meia-noite? Quem, sem favor, me estende o braço com rosas na mão com explicação pro meu calor? Quem, senão meu doido bondinho meus olhos acesinhos, meu comedor... Meu triz, meu risco meu cristo redentor? - Elisa Lucinda

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